A tarde desta sexta-feira (17), marcou um momento especial para o município de Anta Gorda e para a região do Alto Taquari: a entrega da segunda etapa da restauração da Casa Martelli, construção centenária considerada um dos principais marcos culturais do município.
O evento reuniu autoridades, gestores culturais, patrocinadores e representantes de diferentes municípios da Associação dos Municípios do Alto Taquari (Amat) para celebrar a conclusão do restauro e conhecer o projeto “Memorial do Leite”, que propõe novos usos e significados para o espaço.
Cultura, história e diálogo com as origens
A programação iniciou com o “Seminário Patrimonialização Cultural Imaterial do Queijo Colonial”, que destacou o valor histórico e afetivo da produção artesanal de queijo no Rio Grande do Sul. As pesquisadoras Bruna Bresolin e Larissa Ambrosini, acompanhadas do fotógrafo Fernando Dias, apresentaram o painel “Uma história a ser contada: resgate e valorização do queijo colonial do Rio Grande do Sul”.
Na sequência, o historiador e escritor italiano Ettore Beggiato, referência na valorização da cultura vêneta, reforçou a importância dos laços entre o Vêneto e as comunidades de descendentes no Brasil. Também participaram o presidente da Emater-RS Ascar, Luciano Schwerz, e o diretor do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae), Renato Savoldi, destacando o papel do patrimônio como vetor de desenvolvimento regional.
Entrega do restauro e novos usos da Casa Martelli
O ponto alto do evento foi a entrega oficial da Casa Martelli com a estrutura restaurada, um trabalho que envolveu serviços de limpeza, lixamento e escovação das madeiras e antigas aberturas, alinhamento da estrutura e do piso, além de substituição de algumas tábuas e de parte do telhado. A obra reconstruiu o “passadiço”, – espaço que separava a cozinha, sala e quartos; e também devolveu a tonalidade original do casarão rosado de janelas vermelhas.
A primeira etapa de restauro da Casa Martelli foi concluída em 2023, e contou com o Financiamento do Pró-cultura – RS LIC e o patrocínio de Diamaju Agrícola, Agrodalla e Agraz Refrigeração. Já a segunda etapa, entregue hoje, conta com o estímulo da Lei Federal de Incentivo à Cultura. O patrocínio é da Diamaju Agrícola. A realização é da AA Moinhos e do Ministério da Cultura – Governo Federal – Do lado do povo brasileiro.
O resultado foi apresentado pelo arquiteto Marcello Ferraz, do escritório Brasil Arquitetura, responsável pelo projeto. Ferraz apresentou ainda o Memorial do Leite, que transformará o local em um espaço de memória e aprendizado sobre a história da produção leiteira em Anta Gorda e região. A Casa Martelli ainda contará com uma terceira etapa, que contemplara o mobiliário e o paisagismo da casa, previsto para acontecer em 2026 e 2027.
Durante a cerimônia, a presidente da Associação dos Amigos dos Moinhos (AAMoinhos), Sediane Dall’Agnol Roman, destacou o valor simbólico da obra: “Hoje é um dia especial e profundamente emocionante. A Casa Martelli é um exemplo do porquê recuperar. Porque preservar é dar continuidade à vida. A memória tem alma. Ela respira nas paredes, no cheiro da madeira antiga, nas histórias que o tempo não apagou. Quando a gente olha para essa casa, percebe que ela está viva, porque alguém cuidou, alguém acreditou, alguém sonhou em vê-la chegar até aqui. E hoje, Anta Gorda celebra a vida em forma de patrimônio”, disse.
O empresário Jairo Casagranda, proprietário da área onde está a casa, também ressaltou o sentimento de pertencimento que o restauro desperta. “Cuidar desta casa era um compromisso. Quando aceitamos apoiar este projeto, sabíamos que não se tratava apenas de restaurar uma construção, mas de preservar uma parte da nossa história. A gente acredita muito na cultura, porque ela é o que dá sentido às nossas origens e à nossa forma de viver. Nossa família, assim como a nossa empresa, tem isso como princípio. Ver a Casa Martelli viva novamente é motivo de orgulho e de gratidão por poder fazer parte desse momento”, compartilhou, emocionado.
Cultura viva
A Casa Martelli, construída na década de 1910 pelo casal Alexio Angelo Martelli e Elisabetta Da Ré, integra o Caminho dos Moinhos, rota turística e cultural que conecta municípios do Alto Taquari e celebra o patrimônio da imigração italiana.
Com o restauro entregue, o espaço passa a abrigar atividades culturais, visitas guiadas e ações educativas, reforçando Anta Gorda como destino de memória e identidade.
História de uma centenária
Na década de 1910, o casal Alexio Angelo Martelli e Elisabetta Da Ré deixou Faria Lemos, em Bento Gonçalves, e percorreu longos quilômetros até chegar a Linha Viena, no interior de Anta Gorda. Foi ali que ergueram, com as próprias mãos e o conhecimento trazido da terra natal, a casa que se tornaria um dos marcos da colonização italiana na região.
A Casa Martelli, como ficou conhecida, foi construída com materiais de alta durabilidade: madeira de canjerana, tijolos de barro e alicerces de pedra cuidadosamente talhada para abrigar o casal e seus nove filhos.
Mesmo após deixar de ser habitada, a estrutura permaneceu imponente. Suas paredes firmes e o telhado de linhas simples continuaram a despertar a atenção da comunidade, resistindo ao tempo no alto de seus 9,74 metros de altura e 334 m² de área.
