
Toda vez que um projeto turístico audacioso é apresentado no Vale do Taquari, um verdadeiro frenesi se instaura nas redes sociais. Em sua maioria, os posicionamentos são contrários.
O foco das discussões no momento é a Arca de Noé, ideia lançada pela Associação Amigos Reconstruindo Roca Sales (AARRS).
Selecionei alguns comentários em postagem do 365 vezes no vale. Vamos analisar essas críticas com calma e lucides.
- E as casas aos desabrigados, reconstrução da cidade, plano de contenção de enchentes, estradas…?
Todas as importantes demandas acima são responsabilidades do poder público, enquanto que o projeto da Arca de Noé é planejada com investimento privado. Ou seja, frentes distintas. Claro que o empresariado pode e deve auxiliar em iniciativas sociais – como foi feito com a entrega de casas pelo Grupo Front e Projeto Re.construir do ex-jogador Dunga, por exemplo. Mas é fundamental que as cobranças mais urgentes sejam direcionadas aos governos, que detêm recursos dos impostos justamente para atender a demandas coletivas.”
- Um novo empreendimento de turismo é desnecessário.
Se uma fábrica ou estabelecimento comercial abre numa cidade, a tendência popular é celebrar o fato. Afinal o novo negócio gerará emprego e renda na cidade. Pois com um empreendimento turístico ocorre a mesma coisa. Além disso, a vinda de turistas impacta positivamente outros serviços como a rede hoteleira, transporte e comércio local ao atrair público novo para uma cidade.
- Não é hora de investir no turismo.
Assim como pessoas que perderam suas casas na enchente, vários empreendimentos turísticos do vale foram atingidos pela força da água. Indiretamente, todo o setor sofreu perda com o período fechado e diminuição do movimento devido à falta de estradas e acessos. Até hoje o turismo regional ainda amarga a falta do Trem dos Vales. Essa gigantesca cadeia econômica, formada por centenas de famílias, aguarda ansiosa por novas iniciativas capazes de atrair público à região.
- Construir uma arca numa cidade devastada por enchente é um deboche.
Essa é uma forma de analisar o projeto. Eu tenho outra. Se formos olhar a história da arca de Noé na Bíblia fica claro que esses versículos não se resumem apenas a destruição causada pelo dilúvio. Simbolizam também recomeço e esperança, sentimentos que Roca Sales e o Vale do Taquari vivenciam diariamente no pós-enchente.
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Boa parte das pessoas que questionam os investimentos turísticos são as mesmas que viajam para destinos turísticos consolidados como a Serra Gaúcha, praias catarinenses ou Rio de Janeiro. Lá, acham o turismo legal. Aqui é ruim. Por que?
Esse tipo de visão pode estar ligado ao que chamamos de síndrome de vira-lata: uma tendência, infelizmente comum, de desvalorizar o que é nosso e superestimar tudo que vem de fora.
Pois nas andanças que faço pelo Vale do Taquari vejo uma região próspera, com belezas naturais, gastronomia farta e cultura rica formada por diversas etnias. Celebro toda vez que leio notícias sobre investidores dispostos a apostar o seu dinheiro para potencializar as qualidades regionais.
Que a Arca de Noé saia do papel e se transforme num produto âncora da região assim como já ocorre com o Cristo Protetor de Encantado.